VALORES POLÍTICOS
Aristóteles, defendia que “o homem é por natureza um animal político”. Efectivamente, o homem só pode ser entendido como um ser social. Não é possível imaginarmos o homem a viver isoladamente. Perderia, necessariamente, a sua essência unificadora da sua capacidade racional, remetendo-o para o reino dos irracionais. Nesta medida, e por ser social, o homem é um animal político, é o único dos animais que detém a palavra e dela faz o discurso que lhe permite exprimir o que lhe é útil ou inútil, o que é justo ou injusto. Distingue-se dos outros animais por saber distinguir o bem do mal, o que é certo do que é errado.
Mas se a política é uma consequência do homem social, a moral é uma característica intrínseca ao próprio homem. Nesta medida entre a moral e a política estabelece-se uma relação mútua. Sendo a moral parte do homem, este não a pode renunciar. Não podendo renunciar à moral, também não pode renunciar à política.
Estabelecido o paralelismo entre o homem social e o homem político, estão reunidas as condições para uma análise mais profunda da política e dos seus valores. A política, bem se entenda, como a expressão do homem social.
Nestes termos cumpre compreendermos que não basta a intenção de agirmos para bem da comunidade, é necessário que saibamos conduzir essa acção sem semearmos os ventos da indiferença pelo próximo e da manipulação do outro a pretexto de um interesse supostamente superior. É que agirmos em nome da humanidade não nos dá o direito de pensarmos que, por isso, estamos legitimados a implementar uma política opressora e injusta.
Foi em nome da humanidade que surgiram os regimes ditatoriais, o socialismo, a democracia. Mas também é em nome da humanidade que se legitimam governos que causam desequilíbrios na sociedade resultantes de diferentes ponderações de interesses pertencentes a homens ou grupos de homens dessa mesma humanidade. Daí que tenhamos políticos e políticas à medida desses interesses. Mas todos eles agem em nome da humanidade!
O homem enquanto ser espiritual e parte de um todo organizado integra o Estado. Este, por seu turno, poder-se-ia entender como os governantes a quem incumbe assegurar a coesão e a sobrevivência da nação. Entendendo-se esta, como a comunidade natural do homem espiritual.
Portanto, o Estado funda a sua existência em três elementos essenciais: a existência de uma sociedade humana (a Nação); diferenciação entre governantes e governados; e uma força material e moral do Estado. Por isso, os governantes impõem aos governados as suas vontades.
Ora, o certo é, que longe vão os tempos em que a política eram ideias. Agora são as pessoas ou, mais propriamente, algumas personalidades. Por isso, assistimos constantemente a um espectáculo, onde cada personagem político procura vender o seu produto, por vezes mais deteriorado que eles próprios.
Hoje, quando se vota, não se vota em ideais ou convicções, ou em conteúdos programáticos que responsabilizem os actores políticos. Simplesmente, porque os ideais e convicções não existem e os conteúdos programáticos não predominam na escolha do eleitorado. Este, faz a sua escolha de acordo com a percepção que tem do candidato-actor. Se este representa bem o seu papel as pessoas votam nele. Ele até poderá ser uma lástima na actividade governativa, mas porque tem elevados índices de simpatia e popularidade, as pessoas votam nele.
O mais grave de tudo isto, é que os governantes já se aperceberam que fazem parte de um espectáculo e que não ganharão eleições se não souberem representar bem o seu papel. E com isto, vão-se agravando os desequilíbrios na sociedade. Por vezes o espectáculo é tão deprimente que muitos de nós já não têm paciência para assistir a ele. E vamo-nos afastando progressivamente desse espectáculo ao abstermo-nos nos sucessivos actos eleitorais.
Como forma de comprovarmos, objectivamente, esta tese basta retroagirmos ao momento em que o actual Governo foi eleito, pela primeira vez em 1995. Efectivamente, o Partido Socialista, apresentou ao eleitorado um programa onde prometia tudo a todos. Do ponto de vista macroeconómico era obvio que tais promessas eram, genericamente, inexecuíveis, tal como se veio a verificar no final do mandato. A generalidade das promessas não foram cumpridas a tal ponto que esse mesmo partido se apresentou, novamente a eleições, mas desta feita, sem avançar promessas significativas alegando, apenas, que os portugueses já conheciam o seu trabalho.
Foi, em minha opinião, o reconhecimento tácito de que tais promessas não foram cumpridas. Por isso, o PS alterou a sua estratégia eleitoral. É que se fizesse novamente uma inumeração das promessas que se proporiam fazer, de imediato lembrariam ao eleitorado que tais promessas já haviam sido efectuadas na campanha eleitoral anterior. Neste caso nada melhor que não lembrar às pessoas o que haviam prometido e não souberam ou não quiseram cumprir. Foi, realmente, uma estratégia bem estudada e um papel muito bem representado. Não há dúvidas!!
O que é um facto, é que a abstenção aumentou. Talvez por isso, as pessoas se tenham abstido por não reconhecerem o cumprimento das ditas promessas e não vislumbrarem uma alternativa credível.
Não há dúvidas que o Secretário-Geral do PS, é um excelente actor, pois consegue representar bem o seu papel no âmbito da actual “política espectáculo”. Pena é que seja pela via da auto-vitimização e chantagem emocional sobre o cidadão comum.
O mesmo sucede com os responsáveis pelos partidos da oposição que, em busca de protagonismo, representam lamentáveis papeis contribuindo para o gradual descrédito da actividade política no nosso país.
Ainda assim, creio que seria mais vantajoso para o país que as pessoas que se abstiveram votassem em qualquer outro partido, mesmo no mais pequeno. Mostrando deste modo, um sinal claro aos actuais e principais actores políticos que estão descontentes com os papeis que representam. Enquanto a abstenção se mantiver a níveis tão elevados os nossos políticos serão sempre os mesmos e irão manter as suas representações aos níveis lastimáveis a que temos vindo a assistir.
Imagine-se como não se sentiriam os grandes partidos quando vissem diminuir o seu número de votos em favor de outros partidos que, presentemente, se quer têm representação parlamentar. A “coutada” dos quatro grandes partidos passaria a estar ameaçada e seriam forçados a dignarem-se parente o respeito que o cidadão eleitor lhes merece.
Assim, vamos assistindo a um “circo” onde os domadores exercem o domínio sobre os leões e onde os palhaços fazem rir o público. Por outras palavras, num “circo” onde os governantes exercem a governação a contento dos interesses instalados e no gradual prejuízo das pessoas e da humanidade e, nós, sem sabermos se somos o público ou se somos os “palhaços”!.
João Miguel Almeida
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