ECONOMIA E FINANÇAS ...

O DIVÓRCIO PROMETIDO!

Na formação de Governo o Sr. Primeiro Ministro optou pela criação de um Super-Ministério para a economia e finanças.

Não soube ou não quis compreender que tais ministérios têm, em termos de actuação de Governo, lógicas de funcionamento diferentes.

A Economia com objectivos precisos ao nível da incrementação e viabilização do tecido empresarial e na criação de condições para a restruturação da economia com vista a uma internacionalização crescente, cada vez mais assente num desenvolvimento estratégico daqueles sectores que maiores capacidades apresentem para concorrer com os grandes grupos económicos a nível europeu e mesmo mundial, com empresas multinacionais a invadirem o mercado interno aglutinando o nosso, já de si, frágil sector produtivo e um sector de serviços a seguir uma, nunca vista, estratégia de concentração empresarial como forma de vencer a concorrência externa decorrente da liberalização do mercado.

As Finanças, por seu turno, têm uma lógica orçamental dirigida ao estabelecimento de um necessário equilíbrio entre as receitas e a despesa do Estado, quer ao nível da despesa corrente, quer ao nível da despesa em investimento público. Como se já não bastasse tão difícil exercício para manter o desejado equilíbrio, ainda se vê abraços com uma necessária e inadiável reforma fiscal cujos efeitos não serão, compreensivelmente, do agrado de todos os agentes económicos por razões várias e mesmo por imperativos decorrentes de um urgente alívio da carga fiscal, principalmente, sobre aqueles que mais impostos pagam neste país que são os trabalhadores por conta de outrem.

Por outras palavras, enquanto o Ministério das Finanças tem uma lógica de arrecadação (de receitas, claro está), o da Economia, tem uma lógica de distribuição.

Como se não bastasse a complexidade das relações “conjugais” próprias desse “casamento”, pré-destinado ao divórcio, tivemos um Orçamento de Estado desastroso, acompanhado de uma política de combustíveis irracional e de contornos eleitoralistas, que instalou a confusão entre o que era uma decisão típica do Ministério da Economia (política de preços dos combustíveis) e o que era a avaliação do impacto dessa política nas receitas do Orçamento do Estado. Como o Ministro era o mesmo, confundiu-se entre o que era a execução orçamental com o que era a adopção de uma política económica consentânea com as necessidades de uma economia já de si fragilizada.

A remodelação governamental que o Sr. Primeiro Ministro se viu forçado a fazer, não trouxe nada de novo se não o reconhecimento de que o super-ministério da economia e finanças foi um fracasso, com custos graves para o país e o fim do Ministério para a Igualdade que nunca ninguém teve o prazer de saber, concretamente, para que servia.

A remodelação que se verificou, e no momento em que se verificou, só poderá compreender-se pelo receio na Moção de Censura do PSD, uma vez que se o Primeiro Ministro de Portugal não desse um sinal de que ainda existe correria o risco de todos os partidos da oposição poderem votar favoravelmente na dita moção de censura deixando o PS e o Governo numa situação delicada. Sim, porque se não fosse substituído o Ministro da Administração Interna o país teria razões de sobra para pensar que o Governo não existia. As leis não se cumpriam, a insegurança aumentava... e ninguém era responsabilizado?!

É que fazer oposição também é dizer não quando algo vai mal. É demarcar-se, claramente, da atitude irresponsável de um governo que nada tem feito para melhorar a vida das pessoas que trabalham neste país, das pessoas que necessitam de um sistema de saúde quer resolva os seus problemas, das pessoas que se sentem injustiçadas com os tribunais, das que se sentem inseguras com a falta de autoridade do Estado que as intranquiliza no seu quotidiano.

A apresentação da referida moção de censura pretendia, em última instância, alertar as pessoas para as consequências de um país desgovernado e, ao mesmo tempo, chamar à razão o PS e o Governo para que, de uma vez por todas, honrem o compromisso eleitoral e governem o país, pois foi para isso que o povo português os legitimou.

Nesta matéria o povo é soberano e decide quem quer que conduza os seus desígnios, todavia o PSD, não poderia deixar que os escolhidos pelo povo se refugiassem na legitimidade do voto sem nada fazerem, ainda que possam vir, no término do seu mandato, a ser penalizados nas urnas. É que quatro anos de desgovernabilidade poderão trazer prejuízos incalculáveis que terão que ser suportados por todos, tenham ou não votado no PS.

O PSD não fez mais que a sua obrigação que é a de representar a voz de todos quanto não votaram no PS e não acreditam no Governo.

Nestes termos questiona-se se a moção é ou não merecida. Ora, se o governo foi eleito para governar e o não tem feito, a moção é bem vinda seja de que partido for, não obstante ser rejeitada no Parlamento pela correlação de forças favorável ao PS.

Se este raciocínio não fizesse sentido porque teria o Eng. Guterres remodelado o seu “magnifico” elenco governativo que sempre considerou capaz de corresponder às suas expectativas governativas, poucos dias antes da discussão da Moção de Censura?

É que a convicção do Primeiro Ministro nas suas próprias capacidades governativas já não é o que era, a conjuntura económica mudou. O partido do Governo habituado a viver à sombra dos Governos do Prof. Cavaco Silva, que tanto condena quando algo lhe corre mal, permitiu-lhes governar o país durante os primeiros quatro anos sem implementar uma medida de política governamental relevante para a melhoria das condições reais de vida dos cidadãos e do país. Pode não parecer, mas governar um país é como trabalhar a terra. É preciso semear hoje para colher amanhã. O PS esqueceu-se de semear e agora não tem nada para colher sendo preciso sair da sombra para trabalhar. Por isso culpa o PSD e os seus Governos de não terem semeado o suficiente par poderem continuar à sombra da “bananeira”.

João Miguel Almeida

http://www.members.tripod.com/joaoalmeidait

Retroceder