MAIS UM CONGRESSO
PARA FICAR TUDO NA MESMA
Nos dias 25 a 27 de Fevereiro, realizou-se mais um congresso do PSD.
Em confronto estiveram três candidatos a Líder, cada qual com o seu discurso.
O Dr. Durão Barroso apresentou um discurso sem nada de novo, chegando mesmo, a ser inconveniente nas suas afirmações, preconizando ataques pessoais que em nada tinham haver com as matérias em discussão, descredibilizando-se perante os militantes, principalmente perante aqueles que reagem de forma mais enérgica, como foi o caso da JSD.
O Dr. Santana Lopes, manteve um discurso idêntico ao que vinha mantendo nos congressos anteriores, à excepção do que se refere à proposta de alteração dos estatutos, no que toca a eleições directas, da qual era o principal subscritor.
Surpreendente foi o discurso do Dr. Marques Mendes cuja génese de cariz essencialmente político, apresentou um determinado rumo procedimental que deveria ser seguido pelo partido – fazer oposição firme ao PS. Um discurso mais virado para fora do partido e demarcado do duelo entre os “eternos rivais”, também candidatos à presidência do partido.
Foi um congresso rico em incidentes processuais e políticos: alteraram as regras de votação; a configuração dos boletins de voto; e, acima de tudo, incongruências inadmissíveis atentadoras da transparência e dos mais elementares princípios democráticos que devem presidir à acção político-partidária, mesmo quando estão em causa a aprovação de estatutos balizadores da actuação de um partido.
Como poderá, alguém, compreender que no Sábado de manhã o congresso aprove a eliminação das inerências e estas continuem a votar na eleição do líder no dia seguinte?!
Por outro lado, o problema das directas constituiu, do ponto de vista político, um verdadeiro quebra-cabeças para os apoiantes do Dr. Durão Barroso. Sendo certo que do ponto de vista jurídico, esta proposta não conseguiu a maioria exigida, o resultado expresso tem uma interpretação política que não poderá deixar de ser feita. Por vontade das bases do PSD, as directas tinham sido aprovadas. Quem realmente impediu a sua aprovação foram as inerências e a confusão verificada na elaboração dos boletins de voto que causou uma maior dispersão dos militantes na escolha das propostas em sufrágio.
Por tudo quanto se passou neste congresso, o Dr. Durão Barroso sai mais fragilizado na sua liderança.
Os restantes candidatos marcaram pontos para os congressos que se seguem.
Não obstante o que ficou dito e o que se passou no congresso do PSD, uma análise se cumpre de particular importância.
Urge compreendermos a razão pela qual os congressos do PSD, têm sido, desde a saída do Prof. Dr. Cavaco, autênticos devoradores de líderes.
Parece obvio que não é a falta de pessoas com indiscutível capacidade técnica e profissional a causa de tão malfadada sina que impende sobre o PSD. Os Presidentes do PSD, têm sido excelentes profissionais, não precisando sequer, da política para garantir o seu sustento.
Assim sendo, qual será, então, a causa de tal malfadada sina?
A grandeza de uma qualquer organização radica no potencial dos seus membros. O que sucede no PSD, é que são eleitos para as diversas estruturas do partido, pessoas que não estão minimamente interessadas no partido como um todo integrante da sociedade, mas como um meio de protagonismo e promoção pessoal da sua imagem.
As concelhias do PSD, bem como as distritais estão moribundas sem qualquer capacidade de compreender as mais elementares normas de relacionamento inter-pessoal reciproco entre os cidadãos e o partido. Esqueceram, por completo, que é o partido que existe para a sociedade e não esta para aquele.
Chega mesmo a ser deprimente, assistirmos a um potencial evoluir dos nossos jovens sem que consigamos chamá-los a participar na construção de um futuro que lhes pertence exclusivamente.
Os responsáveis por estas estruturas chegam mesmo a colocar entraves ao livre acesso célere e eficiente de novos militantes por se considerarem, eventualmente, incapazes de acompanharem a dinâmica desses novos elementos. Por isso, optam pelo mais medíocre procedimento remetendo o partido para o isolamento e para o afastamento progressivo face à sociedade que deveria servir.
Só se lembram que fazem parte da sociedade quando há eleições. Em consequência a abstenção aumenta e a política cai num irremediável descrédito generalizado.
Com concelhias e distritais assim, os congressos do PSD continuarão a ser eternos “devoradores” de líderes, sem que consiga conciliar-se com a sociedade e contribuir positivamente para a realização de um projecto comum para um Portugal mais próspero e mais evoluído.
João Miguel Almeida
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