MAIS UM MINISTÉRIO PARA UMA

IGUALDADE CADA VEZ MAIS DESIGUAL

Eis que ao acordar um dia, me disseram ter sido criado mais um Ministério. O Ministério da Igualdade. Aparentemente, ainda ensonado, pareceu-se uma anormalidade perfeitamente normal. Eis se não quando, após um normal despertar, me questionei novamente. Mais um Ministério para a Igualdade?

Pensava eu que a igualdade era um direito constitucionalmente garantido, cujo conceito mais ou menos amplo e ao mesmo tempo ambíguo, não mais deveria querer dizer, se não, para uma mesma condição humana, os mesmos direitos e deveres que se pretenderão, em última instância, iguais. Naturalmente, este significado de igualdade poderá ser interpretado como sendo demasiado perfeccionista. Contudo, não deixa de fazer sentido.

Mas o que se pretende não é definir o conceito de igualdade, mas sim, compreender por que razão terá sido criado um novo Ministério para a igualdade. Andará a igualdade tão desigual que necessite de um Ministério próprio?

Efectivamente todos nós, uns mais, outros menos, terão passado na vida por situações em que este direito individual da personalidade humana não tenha sido devidamente respeitado, quer por um outro concidadão, quer por uma ou outra Instituição Pública.

Se atentarmos sobre a realidade dos nossos tempos facilmente nos apercebemos que é ao nível das Instituições do Estado onde a desigualdade se faz sentir com maior intensidade. Será por isso que se terá criado este Ministério?

Sendo, este mais um organismo público e, além do mais politizado, não será então de esperar mais desigualdade?

Sendo como se disse, que a igualdade é um direito de cada um de nós como parte de um todo, quem melhor que nós defenderá este importante direito?

A igualdade não se distribui às doses individuais a cada cidadão. Por isso ninguém precisa de mais igualdade, o que precisamos é, simplesmente, sermos iguais.

Para sermos iguais, não é preciso mais um Ministério, basta que nos seja permitida uma intervenção cirúrgica quando dela precisemos, basta que nos seja feita justiça quando nos sentimos injustiçados, basta que tenhamos escolas devidamente equipadas, com professores qualificados, quer ao nível profissional, quer a nível humano, basta que tenhamos uma polícia humanizada, profissional e cooperante com o cidadão na prossecução do bem comum.

Em suma, basta que sejamos tratados como cidadãos de um verdadeiro Estado de Direito.

Existe, por exemplo, no nosso País, a figura do Provedor de Justiça, cuja acção tem sido de louvar, para a defesa dos mais variados direitos cuja garantia nos assiste. Por isso, há que incrementar a sua actividade por forma a que um cidadão possa, ainda que sob sigilo, participar dos factos lesivos dos seus direitos. Após competente averiguação e comprovação efectiva da lesão accionaria os devidos instrumentos dirigidos à consequente defesa do cidadão impedido de exercer esse(s) direito(s).

Não vejo motivo bastante para que seja criado mais um Ministério e, muito menos para a igualdade, seria muito mais vantajoso para o país que os Ministérios que existem proporcionassem aos cidadãos a satisfação das suas mais elementares e legitimas necessidades, pois não é para outra coisa que existem.

A igualdade é pertença de cada e para cada um de nós. Por isso, se queremos igualdade, humanize-se a sociedade em que vivemos que está cada vez mais carente de valores e reprimida pelos interesses daqueles que fazem da igualdade algo cada vez mais desigual.

Afinal a igualdade também é a condição de ser livre, sendo certo que minha liberdade termina onde começa a do próximo.  

João Miguel Almeida

http://www.members.tripod.com/joaoalmeidait

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