“NUMERUS CLAUSUS”
Mais um ano volvido e os nossos jovens vêm-se a braços com uma escolha que os condicionará para o resto das suas vias – a escolha do curso superior que gostariam de frequentar.
Com isto, um aluno que gostaria de licenciar-se em medicina vai ter que frequentar o curso de direito, o que queria economia vai ter que se sujeitar com uma licenciatura numa gestão qualquer, e assim sucessivamente.
Tal acontece porque existem os chamados “numerus clausus”. Para compreender o que são “numerus clausus” imagine, o ilustre leitor, que tem em casa uma galinha. Com isto o leitor diria à galinha que numa determinada semana, por ser a festa da terra, ela teria que pôr trinta ovos para fazer todos os bolos de que precisava para a família. Na semana seguinte, dir-lhe-ia que bastava por dois ovos, pois já não precisava de tantos ovos.
Sucede que a referida galinha em nenhuma das semanas faria o que lhe tinha pedido, pois ela põe os seus ovos de acordo com o seu ciclo próprio, portanto não adianta nada impor quaisquer objectivos à galinha, porque ela, pura e simplesmente não vai corresponder.
O mesmo sucede com o ensino superior. São fixados um número máximo de vagas e, na eventualidade de haver um numero de candidatos superior, terão que esperar um ano, ir estudar para o estrangeiro, escolher outro curso que até nem gostam ou, ainda, abandonar os estudos.
Em consequência, temos excesso de advogados, temos escassez de médicos e aí por diante.
Por conseguinte os licenciados deste país são impelidos para um curso no qual não têm motivação, só porque não haviam vagas suficientes naquele de que gostavam.
Mas se o problema do ensino superior nasce logo à entrada dos nossos jovens nas Universidades, não morre aí. Perpetua-se ao longo dos cinco ou mais anos que o jovem frequenta a sua Universidade. Os Senhores Professores Doutores, Mestres e Docentes em geral, têm a sua quota parte de responsabilidade no estado calamitoso em que se encontra este nível de ensino.
Senão, veja-se: O Senhor Professor Doutor, pessoa muito ocupada, delega a principal tarefa de ensinar num assistente que, muitas das vezes, nada ou pouco percebe daquilo que lecciona. Os professores universitários formam uma classe que começa nos avós, passando para os pais e, destes para os filhos. Tal deveria significar que os digníssimos avós seriam uns progenitores de excelente categoria, pois conseguem gerar uma descendência igualmente excelente.
Sucede porém, que a descendência desses senhores não é, toda ela, de excelente qualidade e a prova está na capacidade de transmissão de conhecimento que os professores universitários têm vindo a manifestar. Muitos vão para as aulas ler os livros e quando um aluno, por não perceber um qualquer assunto relacionado com o que está a ser leccionado, os questiona, eles voltam a ler o que está no livro e, no caso de não resultar, mandam o aluno estudar em casa.
É que o que impera na escolha dos professores universitários não é, propriamente, a sua capacidade individual para o ensino. Neste nível de ensino não há o processo de selecção de professores que há, por exemplo, no ensino secundário. Os assistentes são chamados por convite dos regentes das respectivas disciplinas. Como resultado final temos que se o “papa” e/ou a “mamã” são Professores Doutores, os “filhinhos” também vão ter que o ser. Até podem ser uns mentecaptos, mas terão que ser professores universitários.
Depois, como dar aulas numa Universidade não lhes dá o necessário sustento, dão aulas noutras universidades e trabalham em tudo quanto possamos imaginar. No final não têm tempo para preparar as aulas.
Outro dos aspectos que, lamentavelmente, também sucede é o que resulta do facto de muitos senhores alunos entenderem que se devem perpetuar na qualidade de estudante. Como é possível conceber-se que hajam, numa Universidade Pública, alunos com 10 e mais anos de frequência? É que esses senhores esqueceram-se que, por estarem numa Universidade Pública estão a auferir, indevidamente, do dinheiro que a sociedade paga a título de impostos. Por outro lado, estão a impedir que outros jovens possam ingressar nesse curso, pois não existem vagas para eles.
Como conclusão temos médicos que confundem gripes com problemas de rins e, ainda assim, se recusam passar o “recibozito” ao modesto cidadão que andou toda a sua vida a pagar para que eles pudessem ser doutores de medicina. Temos advogados que, para não morrem à fome, têm que exercer outras as funções. Temos gestores de tudo quanto possamos imaginar mas que ninguém sabe, muito bem, para que servem. Enfim temos uma proliferação de cursos para os quais não vai haver a correspondente colocação profissional, simplesmente, porque as pessoas ingressaram no curso de que não gostam nem, tão pouco, são necessários ao normal evoluir do mercado de trabalho que muitas das vezes está a pedir engenheiros, sem que os haja, e está superlotado de advogados e gestores.
João Miguel Almeida
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