O DIREITO DE SERMOS LIVRES...
De entre os direitos, liberdade e garantias com assento constitucional consta a liberdade. A liberdade, conceito abstracto e subjectivo, radica na capacidade criadora do ser humano e manifesta-se pela faculdade de expressão e exteriorização própria desse mesmo ser humano.
Portanto, a liberdade está na dependência directa da qualidade dos nossos sentimentos, das nossas emoções, da nossa lucidez de pensamento e reflectir-se-á, necessariamente, na nossa atitude comportamental face ao mundo e face aos outros.
A liberdade será, então, a consequência inevitável da condição de ser livre.
A liberdade, no homem, reflecte o grau de conhecimento que tem do mundo e de si próprio. Reflecte, ainda, o seu grau de autonomia face aos saberes preestabelecidos aceites pela generalidade dos homens sem que deles dependa na totalidade para ser homem impar na sua unicidade enquanto ser material e ser moral.
Naturalmente que não nos será difícil reconhecer que somos constituídos, em uma parte, por matéria que se consubstancia no corpo que nos dá forma e, em outra, por uma singular energia que nos alimenta o espírito e faz brotar a fonte de conhecimento infinito que há em cada um de nós.
Todavia, uns, acreditam mais que outros no potencial libertador do pensamento humano. Por isso cada homem tem a sua história o seu património de si próprio, por vezes, mais rico que a maior das riquezas materiais. Estas esvanecem-se no tempo e no espaço, ao passo que os feitos sábios do homem livre enraízam-se no presente para permanecerem no futuro.
Esse potencial, essa riqueza, germina e nasce da capacidade de libertação que é próprio do homem relativamente aos preconceitos, aos mitos, às superstições, aos medos e à censura que faz com que alguns de nós evolua para um novo estágio de desenvolvimento para a partir dele atrair para esse novo evoluir a generalidades dos homens.
Daí que os homens que fizeram a história e que se perpetuaram entre os homens, todos eles tenham em comum uma impar capacidade libertadora que lhes permitiu ver o que para a generalidade dos seus semelhantes era inalcançável. Todos eles tinham a maior das riquezas – eram livres!
Foi assim que Galileu, inconformado com os conhecimentos adquiridos para a época questionou um princípio fundamental que era o de que o sol rodava em torno da terra. Ele assumiu perante todos os homens de ciência do seu tempo que tal princípio estava errado e era a terra que rodava em torno do sol. Foi censurado e castigado por ter sido livre! Tal como ele, Aristóteles, Platão, Sócrates, Arquimedes, e tantos outros que, por terem sido livres algum dia, permitiram toda a evolução que conhecemos até hoje!
Até o nosso Camões que de riquezas materiais não reza a história que as tivesse, mas que se perpetuou entre os homens das letras pela sua capacidade de ser livre.
E o nosso povo lusitano por livre ser e aventureiro conquistou o mundo pelos bravos mares “nunca dantes navegados”.
Por isso urge sermos livres no uso da mais nobre das liberdades que ao homem lhe é reconhecida – a liberdade de ser homem e, com isso, ser livre.
Não esqueçamos, todavia, que a condição de ser livre não nos dá o direito de delimitar a liberdade dos outros.
Saibamos a cada momento ser livres na mais valiosa magnitude desta nossa condição para que, sem nos intimidarmos perante aqueles que se acham mais livres que nós, imponhamos a nossa dignidade de sermos homens na convicção profunda que eles jamais poderão invadir os nossos pensamentos e o direito de sermos livres como eles.
João Miguel Almeida
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