VALORES ÉTICOS.
O HOMO ETHICUS
Já dizia Nietzsche “O homem é o animal que jamais se define...”. Com isto, não surpreende considerações várias sobre aquilo que somos individualmente considerados ou socialmente organizados.
A existência humana distingue-se da existência animal com base no processo de adaptação ao mundo ambiente. A adaptação do animal ao seu mundo é inalterável; quando este não consiga enfrentar uma modificação do ambiente, a espécie extinguir-se-á. O homem, por seu vez, surge dotado de qualidades que o distinguem dos outro animais – a consciência de si mesmo. O homem é capaz de reter o passado, visualizar o futuro e utilizar a razão para conceber e compreender o mundo.
Daí que o mundo humano seja um mundo organizado através de normas e valores cujo objectivo é travar a natureza instintiva e violenta do próprio homem.
Com isto, surge a problemática da ética. Sendo que a ética será a relação Homem-Mundo. É o conjunto de regras e valores que regulam a acção humana, variando conforme as épocas, grupos, classes sociais e com o meio.
Jankélévitch afirmava que “O homem é um ser virtualmente ético, existindo como tal de tempos a tempos e de longe em longe”.
A existência moral corresponde, portanto, à necessidade de regulamentar a sua existência, desde o nascimento até à morte.
A ética mergulhou as suas raízes nos grandiosos poderes que ligam o homem ao mundo.
Tudo desde, a magia, mitos, religião, poesia, arte, filosofia, ciência e técnica, caminha a par com a moral.
Tanto a moral como a ética mergulham, igualmente, as suas raízes na política. Nestes termos toda política gera um ética e toda a ética gera uma política. A política pretende considerar a ética como sendo algo de sua jurisdição.
A par de considerandos sobre a ética e da moral, enquanto características próprias do homem, importa falar, ainda, no homo ethicus também designado por homem médio.
O homem médio é aquele cujo processo existencial é por ele conduzido com base num procedimento de vida dirigido à feitura quotidiana dos seus afazeres e alcançar os seus pequenos prazeres sem, contudo, colocar qualquer espécie de problemas, no respeito pelo seus próprios princípios e pelos valores socialmente instituídos.
Naturalmente, num grupo socialmente organizado, o homo ethicus reflecte-se e é reflectido na vivência social de acordo com a magnitude da sua vida quotidiana.
Porque somos homens temos ética e moralidade. Em consequência todos somos regidos por regras e por valores que permitem o relacionamento social e interpessoal.
Por conseguinte todos nós medianamente considerados, somos regidos pelas normas e pelos valores geralmente aceites no meio social. A problemática nasce quando alguns de nós se acham no direito de subverter essas mesmas normas e esses mesmos valores.
Então, a ética que devia mergulhar as suas raízes numa política com ética passa a germinar num política sem ética conduzindo à desigualdade e à exclusão contra o homo ethicus em prol de uma classe política de ética duvidosa.
O estado de degradação crescente em que a acção política se encontra é fruto de uma total ausência de valores no cumprimento, por parte da generalidade dos políticos, dos respectivos mandatos eleitorais.
Parece notório que a actividade política caminha para uma manifesta falta de respeito por aqueles que ainda se dignam exercer o seu direito/dever cívico. E para total estado de estupefacção de todos nós, verificamos que esses políticos não sabem, ou não querem saber, por é que a abstenção se encontra a níveis tão elevados e com tendência para crescer nos sucessivos actos eleitorais.
Daí que o exercício da política careça de uma urgente e necessária remodelação, quer ao nível das instituições, quer ao nível dos políticos que delas fazem parte.
Não me parece haver, hoje em dia, ninguém que vá votar em partidos políticos defensores de verdadeiras convicções, ideais ou valores. Simplesmente, porque esses mesmos partidos não conseguem transmiti-los, ou por que os perderam, ou se sentem ultrapassados por uma sociedade mais evoluída que já não aceita uma política caduca, incapaz de movimentar verdadeiras massas humanas em direcção a uma profunda reforma de mentalidades.
Quem pensaram eles que somos quando votamos nuns e depois vão para o exercícios das funções para que são eleitos outros que nem sequer conhecemos. Somos defraudados pelo próprio sistema democrático em que eles pretendem que acreditemos. Como podemos acreditar neste sistema em que elegemos para um determinado mandato uma pessoa e, a meio dele, abandona-o para se candidatar a um cargo político ou não mais prestigiante.
Porque será que teremos que aceitar a sucessão entre pais e filhos, padrinhos e afilhados como se num regime monárquico vivêssemos? É que pensava que vivíamos numa democracia representativa em que elegia as pessoas em quem acreditava e em função dos conteúdos programáticos que se propunham fazer cumprir caso fossem eleitos.
Com efeito, temos vindo a assistir a uma profunda e degradante promiscuidade entre os políticos entre si e entre eles o poder económico. Certamente, já todos se deram conta.
Os políticos dos nossos tempos emergem da necessidade do “poder” e não de convicções e de ideias que devem presidir ao saudável desempenho das funções para que são eleitos.
E com isso, acham-se eles, no direito de subalternizar o homem que do seu dia a dia faz da vida uma luta quotidiana assente nos valores e nas normas que esses políticos teimam de menosprezar como se só sobre o homem médio impendesse o dever de construir uma ética verdadeiramente ética.
João Miguel Almeida
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